Dois eventos marcaram a última semana nos Estados Unidos: (1) resultado da reunião do FED, o Banco Central Americano e (2) divulgação da inflação do mês de novembro, medida pelo CPI (Consumer Price Index). Em relação aos Juros, o aumento ocorreu conforme o esperado pelo mercado, com elevação de 0,5%, para a faixa de 4,25% – 4,50%, dando fim aos aumentos consecutivos de 0,75%.
A inflação, por sua vez, demonstrou continuar firme em sua rota de desaceleração, chegando a 7,1% em novembro, após atingir o pico de 9,3%, em junho, e 7,7% no mês de outubro. Jerome Powell, em seu discurso, deixou claro que o objetivo do FED é trazer a inflação novamente para o nível de 2%, reconhecendo que os juros continuarão mais elevados até que isso aconteça.
Para que isso aconteça, é necessário que o item com o maior peso no cálculo do CPI, o “Shelter Index”, que mede a evolução do preço dos aluguéis residenciais, também entre em rota de desaceleração, e este é o principal desafio que o FED irá encontrar no mercado imobiliário americano. Algumas das razões para isso são:
O objetivo deste artigo é aprofundar o leitor nos desafios que o FED irá enfrentar para domar a inflação no mercado residencial, e como este contexto beneficia esta estratégia de investimento, que configura uma das principais alternativas aos investidores que estão buscando realocação de recursos internacionalmente e/ou sofrendo em outras classes de ativos mais tradicionais.
Para guiar o leitor nesta construção, o texto foi dividido em três partes:
O CPI é composto por uma cesta de produtos e serviços, sendo “Moradia” o item com o maior peso – de longe – neste cálculo. Isso fica claro no diagrama abaixo onde “Shelter” (Moradia), com cerca de 33% de peso, possui mais do que o dobro em relação ao segundo, “Food” (Alimentação), com 14%. A diferença é ainda maior quando a comparação é realizada contra todos os demais elementos:
O Shelter Index, que como vimos acima, comporta a maior parte no cálculo da inflação, é medido através de 4 subdivisões, sendo que 96% do peso está em duas delas:
Curiosamente, o CPI não leva em consideração a variação dos preços dos imóveis em si, já que os trata como investimentos, utilizando apenas os valores de aluguel para fins de cálculo do “Shelter Index”, seja através do aluguel estimado para uma determinada propriedade (Owner Equivalent Rent) ou pelo aluguel de fato cobrado de inquilinos (Rent of Primary Residence). Por isso, em várias ocasiões ao longo do texto estamos nos referindo a este item como “aluguéis”, ou “preços dos aluguéis”.
Como pudemos observar anteriormente, os aluguéis possuem grande peso na formação da inflação, e apesar dos sinais claros de desaceleração do CPI, que já caiu 23% desde junho, isso não ocorreu por conta dos preços de aluguéis. Pelo contrário, na realidade os preços dos aluguéis continuam (!) subindo, mesmo após os esforços do FED em conter a inflação através dos aumentos consecutivos das taxas de juros.
Além da insuficiência de oferta de imóveis residenciais (tema de um artigo escrito pela Ativore recentemente, citado anteriormente), que teve o maior gap da história dos EUA nos últimos 12 anos e já vinha exercendo fortes pressões inflacionárias, o recente aumento de juros – utilizado pelo FED como ferramenta para combater a inflação – gerou dois efeitos colaterais:
A construção de Single Family Properties Build-to-Sell, ou seja, Residências unifamiliares voltadas para venda ao consumidor, e não para aluguel, despencou recentemente (linha laranja).
A construção de Multifamily Properties (linha cinza), prédios multifamiliares que são exclusivamente voltadas para o aluguel e que se beneficiam com a atual inflação, continuam em um bom ritmo de construção. Isto é justificado pela redução da oferta, que piorou com a queda brusca das construções de casas, ao mesmo tempo em que uma parcela maior da população precisa alugar, uma vez que o financiamento para compra está inacessível a boa parte da população por conta do aumento dos juros.
Por isso, a necessidade de controlar a inflação, e ao mesmo tempo suprir uma demanda fortíssima por novas residências, abre uma janela oportunística para aplicação da tese Build-to-Rent {link}, desde que seja realizado de maneira profissional e em observância às inúmeras nuances que tais projetos apresentam.
Para investir neste mercado, é necessário profundo e especializado conhecimento, pois são diversos os fatores a serem considerados, sendo alguns deles:
O FED possui um grande desafio pela frente, porém, o momento também traz oportunidades a investidores mais profissionalizados. Para que esteja janela seja devidamente aproveitada, é necessário contar com operadores e gestores profissionais, que entendam a dinâmica atual e conheçam profundamente cada um dos mercados de atuação.
Este artigo foi escrito por Renan Barros, Sócio Fundador e CIO da Ativore, com a colaboração de João Succar, Sócio e Head de Real Estate da Ativore.
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Com ampla experiência no mercado imobiliário americano, é cofundador da Ativore desde 2014 e Chief Investment Officer na Ativore Asset, tendo estruturado nos últimos 10 anos, operações de investimentos diversificadas em mais de 30 estados dos EUA e 10 nichos de mercado, com retornos de 7,3% a.a. em dividendos em dólar e +18,5% a.a. de TIR realizada. Possui licença de gestor de fundos, sendo certificado pela Anbima (CGA), e com formação em Administração de Empresas pela UFRJ.
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